OPINIÃO | A Suma hipocrisia: a Casa Comum e os vendilhões do Templo

04 agosto 2023 | 16h35

O Papa Francisco é, sem dúvida, uma das poucas luzes que brilha no meio das trevas contemporâneas: onde uns alimentam a guerra, ele fala de paz; onde há barreiras, ele tece caminhos; onde uns excluem, ele batalha pela inclusão de todos: “todos, todos, todos”, como referiu na Oração de Vésperas, no Mosteiro dos Jerónimos, para que a Igreja não seja uma alfândega. E, para além de tudo isso (que seria já tanto), o Papa reconhece os erros, exorta à renovação da Igreja, combate o proselitismo, apela ao amor pelo próximo, luta frontalmente contra as desigualdades criadas por distorções económicas que empobrecem os mais desfavorecidos e, repetidamente, defende o imperativo de cuidar e proteger a natureza e o ambiente, a – como lhe chama – nossa Casa Comum.

Francisco voltou a frisá-lo, logo no primeiro discurso oficial da sua visita ao nosso País. O Papa, como nenhum outro líder, tem sido um paladino da defesa do ambiente, clarividente sobre a importância de cuidar dele, para garantirmos o futuro, nosso e das gerações mais jovens. E é por tudo isto que o Papa Francisco é tão amado e reconhecido, tanto por crentes, como não crentes. Pena é que haja, como sempre, vendilhões no Templo.

Cascais recebeu o Papa para a inauguração de umas instalações de um dos seus projetos: as Scholas Occurentes. E se é, sem dúvida, valorosa a iniciativa, melhor seria que os líderes locais entendessem e, principalmente, praticassem o que Francisco exorta que façamos: tratemos, com cuidado, do ambiente.

Ora, em Cascais, o ambiente serve apenas o discurso populista de uma Câmara inebriada com a construção. Basta ver o que se passa na Quinta da Marinha, no Parque Natural do lado de Cascais, na Penina, na Areia, em Birre, na Aldeia de Juso, na Charneca, em breve no Zambujeiro; na primeira linha de costa ao longo de todo o concelho e, principalmente, em Carcavelos e na Parede. Não há verde que resista. E mesmo em zonas onde havia prédios pequenos, surgem, como cogumelos, edifícios mastodônticos – basta ver o caso da Avenida 25 de Abril/Gandarinha ou na Villa Baía, no Monte Estoril. Aliás, em toda a entrada de Cascais… Por isso, o que impera, em Cascais, é a Suma hipocrisia: César finge venerar Deus para daí retirar proveitos políticos, enquanto arruína o futuro de todos, com a construção de luxo, ridícula e nefastíssima em tempos de catástrofe climática.

Atente-se na hipocrisia política que se torna evidente ao ver Carlos Carreiras e Pinto Luz à volta do Papa quando acabaram (em 18 de julho de 2023) de aprovar a destruição da Quinta dos Ingleses. 50 hectares de verde, essenciais à qualidade de vida da população e à preservação da Casa Comum destruídos pela vontade política de quem só vê cifrões, numa altura em que se assinam protocolos para proteção da natureza, existem verbas europeias para a preservação das áreas verdes e se vêem diariamente os efeitos do aquecimento global. Porque não é seguramente o apelo à preservação da Casa Comum e a luta conta o aquecimento global que levou os mesmos a aprovar a execução das obras na Quinta dos Ingleses! Ou é?

O oceano lembra-nos que a existência humana é chamada a viver de harmonia com um ambiente maior do que nós; este deve ser guardado com cuidado, tendo em conta as gerações mais novas. Como podemos dizer que acreditamos nos jovens, se não lhes dermos um espaço sadio para construir o seu futuro?” – perguntou Francisco.

Se tiverem vergonha e não cegueira, Carlos Carreiras e Pinto Luz, e a Câmara Municipal ainda podem garantir a preservação da Quinta dos Ingleses e inverter a destruição sistemática dos espaços verdes que têm vindo a permitir. Basta que César ouça Deus.

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